segunda-feira, 12 de maio de 2014

Resenha: Crash, J.G. Ballard


Sinopse:
    Narrado em primeira pessoa por um roteirista de cinema e publicidade, o livro mistura um minucioso realismo à mais ousada fantasia ao retratar uma espécie de irmandade de indivíduos doentios, obcecados pelas possibilidades eróticas dos desastres de automóvel. O líder do grupo, Robert Vaughan, passa seus dias nas vias expressas da região do aeroporto de Londres, procurando acidentes sangrentos - que ele fotografa em todos os detalhes escabrosos. Depois, com prostitutas colhidas à beira da estrada, busca reproduzir, em bizarros atos sexuais no interior do carro, as posições das vítimas lesionadas. Conduzido por um narrador cada vez mais perplexo e fascinado com a descoberta desse mundo em que o erótico, o mecânico e o macabro parecem se fundir, Crash pode ser lido como um retrato singular, sob a forma de pesadelo, da realidade insana em que trafegamos todos os dias.



Resenha:
    Essa pode ser considerada, de fato, uma das leituras mais, digamos... estranhas que já fiz. Muito à frente de seu tempo, J. G. Ballard analisa a sociedade como uma constante mudança nos conceitos de passado, presente e futuro. Ele atribui uma relação muito íntima do homem com a tecnologia desde o início do séc. XX, espaço histórico em que um escritor, por isso, está diante de um universo em que a realidade, por ela própria, é ficção. Por isso, cabe aos autores apenas "descrever e analisar" cenários, e não mais inventar realidades.
    A proposta de Crash pode ser considerada por alguns leitores como ficção, por se tratar de tabus até hoje estabelecidos, mas Ballard traz como algo muito real. E presente no futuro da humanidade. Ele apresenta Vaughan, um homem com tendências eróticas 'incomuns'. Ballard estabelece um relacionamento com esse homem que tem atração por cenas de acidentes de carros e que acha extremamente excitante toda a dramática dessas situações, primeiramente como observador. Depois assume uma posição de experimentação, entendendo gradualmente como funciona a mente de Vaughan. Ao final da obra, ele deixa de ser aprendiz e conecta-se por completo à ideologia.
   A linguagem é muito crua e direta, e não apenas por narrar cenas sexuais. Aqui o bizarro é explorado da maneira mais natural possível, desconstruindo conceitos e preconceitos da sociedade. Ele explora o erotismo livre de regras e sentimentos, de modo que acredito que tenha sido muito polêmico para a época. Mas nesse sentido, Ballard tem um quê de clássico, pois adiciona a atemporalidade à sua narrativa. Crash, ainda hoje, no século XXI, tem capacidade para abalar seus leitores. E afirmo por experiência própria.
    Encontrei no google, como se pode ver abaixo, uma imagem das várias capas que Crash já assumiu. É possível assimilar, pelo design de cada capa, um pouco da essência do livro. Carros, sexo, drogas e muito sangue compõem essa obra.


 

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