quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Resenha: Garotas de vidro



Sinopse: 
          Lia está doente e sua obsessão pela magreza a deixa cada vez mais confusa entre a realidade e a mentira. Mas ela perde totalmente o controle quando recebe a notícia de que sua melhor amiga, Cassie, morreu sozinha em um quarto de motel. E o pior: Cassie ligou para Lia 33 vezes antes de morrer. O que começou como uma aposta entre duas amigas para ver quem ficaria mais magra tornou-se o maior pesadelo de duas adolescentes reféns de seus próprios corpos. 
                                                                      (Retirado do skoob)


Resenha:
     O mais interessante desse livro é a maneira como a autora aborda a temática. Na narrativa letárgica e infeliz de Lia, é possível absorver em partes contadas e pesadas, assim como as calorias dos alimentos, um pouco de cada aspecto profundo e degradante ao ser humano da doença que é a anorexia. Fugindo aos esteriótipos, aqui há um aproximamento muito grande com a realidade (ou com o que pessoas que não vivem esse drama imaginam que seja essa realidade, porque como dizem, "só entende mesmo quem vive isso na pele"). 

"Eu sei que sou eu, mas não sou eu, não de verdade. Não sei como sou. Não consigo lembrar como é que a gente faz para parecer alguma coisa." (Lia em frente ao espelho, página 84)

     Lia, a protagonista, é uma garota com problemas comuns. Pais separados de quem ela recebe pouca atenção, e com cujos problemas ela teve que lidar. Ela tem uma irmã, a Emma, com quem mantém uma das ligações afetivas mais sinceras que ela mantém em sua "sobre"vida. Mas toda a sua obsessão começou realmente da amizade que tinha com Cassie. Em um determinado momento de sua amizade, a amiga de Lia revela um segredo sujo de sua vida: o hábito de comer demais e depois vomitar tudo. 

     "Esticando e vomitando e se entupindo e esvaziando, o balde chamado Cassie era arrastado para o poço o tempo todo." (página 155)

      A narrativa vaga entre pontos calmos e pontos violentos de uma existência triste e sem perspectivas. A visão de Lia vai além da busca pela magreza. Diferentemente de Cassie, ela não gosta de vomitar, por isso conta todas as calorias que ingere no dia. A influência da amiga despertou nela fantasmas adormecidos. Ela rejeita a si mesma profundamente, e faz o que é preciso para fugir desse sentimento de inferioridade. Por vezes, seus pensamentos são extremamente obscuros. Por isso, essa é uma leitura que exige calma, compreensão, e um estômago muito forte.

"Fume pólvora e vá para a escola para pular por dentro de aros, se sentar, pedir e fingir de morta quando mandam. Escute os sussurros que se enrolam na sua cabeça à noite, te chamando de feia e gorda e vaca e biscate e o pior de tudo: 'uma decepção'. Vomite e passe fome e se corte e beba porque você precisa de um anestésico, e funciona. Por um tempo. Mas então o anestésico vira veneno e a essas alturas você está seguindo essa estrada diretamente para a sua alma. Você está apodrecendo e não consegue parar."
(página 158)





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